Sim, eu sou uma assassina!

O título pode parecer estranho, mas sim. Eu sou uma assassina.

Aqui vai a história mais triste da minha vida.

Há uns quatro anos atrás, eu tinha uma cadela chamada Iba (sim, o nome é ridículo mas o verdadeiro nome dela era Ibiba, mais ridículo ainda, mas como minha irmã não conseguia falar o nome todo, acabou ficando Iba mesmo!). Ela era uma vira-lata marrom e vivia suja, meio saidinha, vivia com os vira-latinhas da rua. "Dava" pra todos cachorros que via pela frente, mas era queridinha até.
Um belo dia apareceu com a barriga maior que o normal e estava meio deprimida. A Iba tava grávida.

Uns meses depois, a Iba sumiu. Fomos olhar de baixo da casa e lá estava ela com 7 filhotinhos, infelizmente o oitavo estava preso dentro dela e não conseguiu sair. Tinha sangue em todo o pelo dela. A Iba ia morrer.
Os 7 cachorrinhos eram coloridos, um preto, outro branco, outro marrom, outro mesclado e assim ia. Também, com tanto pai!

Um dia depois a Iba faleceu. E os cachorrinhos não chegaram a nem mamar na coitada. O pretinho foi o primeiro a morrer. Encheu de moscas varegeiras na boca dele. Sobrou seis.
Mais um dia se passou e mais dois amanheceram mortos. Eu no meu desespero total queria salvar a vida dos outros quatro mais do que tudo nessa vida. Fui até a agropecuária mais próxima e pedi o que precisava ser feito. A moça disse que tinha que dar leite desnatado fervido com água mineral em temperatura ambiente. E o pior, de três em três horas.

Mas como eu tava com pena dos cachorrinhos, filhos da falecida Iba, levantava eu às 00:00hs, 03:00hs, 06:00hs e assim seguiu por três dias.
Como eles ficavam dentro de uma caixinha de papelão na lavanderia, eles faziam suas fezes lá dentro. E em três dias eles tava totalmente sujos.
Aí eu, como essa minha inteligência avançada, resolvi dar banho nos cachorrinhos de quatro dias de vida em pleno inverno.

Mas minha inteligência falou tão alto que eu percebi que tava frio. Esquentei uma água, e peguei um paninho, só para passar neles com a água quente. Vejam bem, em pleno inverno.
Deu duas horas, e eles se esfriaram de um jeito. Começaram a tremer e não pararam mais.Pareciam uns cubinhos de gelo.
Eu comecei a chorar como uma condenada. Peguei pano e esquentei e coloquei neles mas não teve jeito de esquentar os filhinhos da Iba que agora eram meus.
Então, em meio à minha dor de mãe, peguei uma blusa velha de lã, enfiei os bichinhos lá dentro e pensei comigo: "O que amanhecer vivo, eu vou cuidar tanto tanto, que eles vão até me chamar de mamãe um dia!". Gente, eu sonhei com a Iba a noite inteira me olhando com cara torta e dizendo e cachorrês: "Tu matou meus cachorrinhos, eu te odeio!".

No outro dia, corri pra ver quem tinha sobrevivido, e pra minha sorte, dois.
No mesmo dia, tinha comunhão da minha prima e eles ainda tavam geladinhos.
Como meu pai tem uma padaria, tem uma peça separada dela onde fica só o forno.
Daí na minha mais incrível inteligência pensei comigo: "Enquanto eu vou na comunhão, vou colocá-los na peça do forno, lá é quentinho e eles vão melhorar!"
Coloquei a caixinha deles debaixo do forno. Quando voltei, corri lá e adivinha??
Sim eles tavam torrados!

Até hoje eu não me perdôo por este fato, e a Iba ainda me percegue nos sonhos. Ainda ouço os latidos dos cãezinhos. Mas de uma coisa eu posso ter certeza, fiz tudo que pude. Pena que me faltou sorte de não ser verão!